quinta-feira, 2 de julho de 2009

(Des) abrigados


Ele espera pela mãe e afirma sorridente que ela voltará um dia para buscá-lo. Ele faz parte de um grupo de “Eles", que ganharam uma nova família. Eles formam uma família gigante, mas que por serem tantos não se sabem os nomes. Eles moram na mesma casa, que sendo de todos, acaba não sendo de ninguém. Eles são aqueles de quem nossos olhares fogem no meio das ruas, aqueles que nos dão medo, mas que quando são postos entre quatro paredes, nos fazem cair em compaixão. Eles são bebês enrugados que contam as horas pelas refeições e que de tanto descansarem durante o dia, se debatem na cama procurando o sono pela noite. Eles choram como crianças birrentas. Eles sorriem com a doçura mais terna como quem descobre o amor. Eles são diferentes. Eles não gostam de ser fotografados ali, exilados. Eles não se intimidam com as fotos. Eles gostam de serem olhados. Eles têm lembranças. Eles têm saudades. Eles têm memórias que preferiam esquecer. Eles têm desejos que não conseguiram viver. Eles vivem se despedindo uns dos outros. Eles apenas vêem os leitos vazios. Eles já perderam tudo e por não terem mais nada, não esperam muito da vida. Eles por não terem mais o que esperar da vida, já não temem a morte como visita.
Eles somos nós amanhã. Nós somos aqueles que esperam um melhor destino,um melhor abrigo.


Foto tirada em uma visita ao abrigo Luz de Escol,em Nova Iguaçu

Um comentário:

Dênis Rubra disse...

"Eles somos nós amanhã. Nós somos aqueles que esperam um melhor destino,um melhor abrigo."

Bravo, Mari. =)